06 março 2007

Fazes-me falta


É um livro


O livro que mais gostei de ler até hoje. Inês Pedrosa.


O livro também me faz falta, dado que se encontra perdido, algures entre a minha casa da Ericeira e Lisboa.

Li-o nas melhores férias da minha vida. Ao som das ondas do mar da Arrifana, da Carrapateira, à luz da lanterna no parque de campismo de Aljezur. Marca um ponto de viragem na minha vida este livro. Gostava de o encontrar, de certeza que ainda cheira a mar e a sorrisos dessas férias passadas com os amigos de sempre.

12 comentários:

Anónimo disse...

OS AMANTES DO POSSÍVEL
Eduardo Prado Coelho

Público | Mil Folhas | 27 de Abril de 2002



Algo que
procura forçar
os muros da
realidade,
procura derrubar
as convenções e
as gramáticas,
procura ser
político
no sentido
mais radical
do termo

O leitor que abre o mais recente romance de Inês Pedrosa (intitulado "Fazes-me Falta" e editado nas Publicações Dom Quixote) depara com um dispositivo narrativo de extrema simplicidade: duas vozes apenas, que, ao longo de cinquenta blocos textuais, a que, pela sua episódica brevidade, não chegaremos a chamar capítulos, se cruzam numa espécie de diálogo espectral. Uma dessas vozes é feminina, e é a ela que cabe a iniciativa de convocar os temas. A outra voz, que viremos a saber que é mais velha, pertence a um homem. Poderíamos pensar, segundo as convenções de leitura para que estamos preparados, que entre estas duas personagens existe sobretudo uma relação passional. Mas aquilo que as une é de uma outra ordem - e de certo modo o livro não faz mais do que ir à procura do nome exacto para essa ordem, o nome apropriado para esse tecido de palavras que une, enreda, compromete, envolve estas duas vozes. De um modo esquemático, dir-se-ia, como a própria Inês sugere, que se trata de uma relação de amizade. E de que o que Inês Pedrosa pretende é relançar a energia ficcional da amizade, habitualmente relegada, no campo dos afectos romanescos, para um lugar secundário.

Mas neste ponto descobrimos que o que está em jogo é mais do que uma inversão de pregnâncias e cotações. Não é de amizade nem de amor que se trata. Mas de um processo mais complexo e desconcertante em que estamos para além da amizade e do amor, num espaço de infinita sexualização pela pura e também impura ausência dos corpos, numa espécie de invenção impossível a que apenas se pode dar o nome de Deus. Porque, se Deus é também uma personagem deste texto, é precisamente deste modo, como designação de um lugar concebível em que se deixam para trás as etiquetas do amor e da amizade e onde se pode encontrar o eixo definitivo em que dois seres se precipitam interminavelmente um para dentro do outro (seja na distância, seja na discórdia, seja no absurdo da separação, ou no equívoco das peripécias do quotidiano). O que é dito na dobra de uma página desse livro deslumbrante que é "The End of the Affair" de Graham Greene: "'People can love without seeing each other, can't they?'- perguntava Sarah, depois de ter desistido de ti para te salvar. Ou de Maurice, é a mesma coisa. Podemos amar no escuro, sim, podemos amar na luz sonâmbula da ausência, podemos tanto que inventamos Deus. Tu dizias que Deus era o teu personagem de ficção favorito. Mas não querias entender que os personagens de ficção existem tanto como tu."

Deus ou o Possível. E o Possível é aqui enunciado à maneira de Musil, numa idêntica distribuição de peso e realidade entre o que aconteceu e o que não chegou a acontecer, mas nos acompanha sempre como o outro lado, a face ciciada, do que aconteceu. Por isso a voz masculina irá caracterizar-se pela sua lentíssima queda no espaço do Possível: "deslizaste para o território musiliano do 'homem do possível,' aquele para o qual tudo o que existe, visível ou invisível, tem a mesma gravidade." E é isto, esta vagarosa implicação de duas vozes na dimensão divina do Possível, que permite que este livro exista. Porque ela, a voz feminina acaba de morrer, e continua a falar como se essa mudança de estatuto fosse apenas uma prega, um simples vinco, no imenso tecido do ser onde os seres se encontram, desencontram e e reencontram, num jogo sem regras definitivas nem fronteiras estáveis, e onde os mortos são somente as figuras tutelares que definem o espaço onde os vivos se deslocam: "talvez não haja idades. Só mortos ressoando pelos canais do Tempo, mortos que, como ímans, aproximam e afastam os que ainda não morreram. Tu trazias tantos mortos na sombra do teu sorriso." E por isso se pode dizer que "Deus é uma conspiração de mortos contra a amnésia dos vivos."

O imenso mérito deste terceiro romance de Inês Pedrosa - que é sem dúvida o seu melhor livro, e desde já um dos romances mais importantes e apaixonantes publicados este ano - reside no facto de a Inês ter sabido construir sem a menor transigência um mecanismo narrativo extremamente original, e ter sabido dar-lhe o desenvolvimento adequado, quer na construção das figuras que o povoam (algumas personagens menores em torno do entre-dois dos narradores), quer na forma como desfia cenas de grande nitidez e visualidade. Mas esta experiência literária não é apenas um trabalho de laboratório. O que Inês escreve é algo que procura forçar os muros da realidade, procura derrubar as convenções e as gramáticas, procura ser político no sentido mais radical do termo, na medida em que pretende fazer existir aquilo que começa por existir apenas nas palavras em que essa pretensão se formula. Se as duas vozes, a dela e a dele, a feminina e a masculina, se respondem e dialogam não apenas na memória do que aconteceu de amizade e cumplicidade, mas também na exaltação do que de amor não chegou a acontecer, é apenas porque ao longo de todo o livro procuram que um espaço de serenidade se institua: um espaço onde o possível e o real, a amizade e o amor, o sexo e a ausência de sexo, a presença e a ausência, a morte e vida, se tornem transparentes, comunicáveis, transbordantes e divinos.

Mas se o livro da Inês tem o espantoso mérito de ser ele mesmo a experiência viva do que descreve, seria um erro supor que se trata de uma galeria de sombras empenhadas na abstracção de um projecto metafísico. É verdade que neste livro, se quisermos utilizar uma terminologia banal, "não acontece nada," a não ser o acontecimento de um improvável e incorporal diálogo, mas isso é apenas porque tudo aconteceu antes e nada do que aconteceu antes pôde acontecer sem que fosse ao mesmo tempo o eco, a repetição, a antecipação de tudo o que poderia ter acontecido. Mas estes "corpos cintilantes da vida potencial" convivem com o que há de mais activo e concreto na concreta realidade portuguesa. Ele vem de um guerra em África e de alguma corrosão de ideais. Ela parte de uma ânsia desmedida de mudar o mundo e reequilibrar a relação entre homens e mulheres. Ele atravessa casamentos e histórias sentimentais sem muito lastro nem melodia. Ela percorre as múltiplas figuras da paixão para se centrar naquela que talvez menos a mereça: "Saiu e deixou-me na cama, o homem que Deus mandou para me matar." Cada um tropeça em ambiciosos, linfáticos, oportunistas, manipuladores e "analfabetos sentimentais." Cada um experimenta as decepções do "amor amarrotado." Ela lança-se nas formas mais impiedosas e burocráticas da actividade partidária e do envolvimento político até perceber até que ponto se desfigura e amarfanha. Procura então entender as razões do Mal, onde nasce e prospera a violência, que impede os seres de se ajoelharem em compaixão recíproca, onde habita o crime e os homens se despedaçam numa carnificina sem nome: obceca-a o sofrimento das mulheres, a desatenção dos homens, as crianças desamparadas, a dor uivada até ao sangue e à violação. Em páginas admiráveis (mas todo o livro é prodigiosamente escrito) a Inês fala da morte lentíssima das crianças e do sofrimento inominável - essa violência abjecta que leva um ser humano, não a querer morrer, mas a "não querer viver": "nem a rapariga que nesse instante pára o automóvel sobre a ponte 25 de Abril e se atira para o cimento negro do rio quer morrer - quer apenas parar de viver, o que não é a mesma coisa." Daí que as duas personagens sejam seres empenhados, desesperados, mordazes e ferozes, coloridos e eloquentes, ele envelhecido e sempre em busca do "dia envelhível," ela, solar e luminosa, cheirando a "rosas, canela e sexo." E todos as restantes personagens são figuras expansivas e sintomáticas da sociedade portuguesa contemporânea.

A questão essencial com que todos se confrontam tem precisamente a ver com esta relação entre uma amizade que se transfigura na enlouquecida brancura do desejo ("Precisei de morrer para te desejar, precisei de morrer para ver a cor do desejo, que é branca, branca e irreparável, como tu, como nós dois") e um amor que se dissolve na sufocação de um aquário: "Quando fazíamos amor, não era o tempo que parava. Nós é que estávamos mortos, infinitamente mortos, boiando um dentro do outro num azul sem céu nem gravidade." O lugar do Possível que o nome de Deus sinaliza seria aquele onde evitaríamos a corrupção do tocar ("tudo o que tocamos se desfaz") sem deixarmos de viver nesssa tangência irreprimível de cada um ficar cada vez mais dentro do outro - tão perto, tão perto, que só um outro lugar o permitiria conceber. Como diria Caeiro do rio da sua aldeia: "quem está ao pé dele está só ao pé dele." E é a voz dela que vai deixar a palavra positiva: "Estou à tua espera num sítio onde as palavras já não magoam, não ferem, não sobram nem faltam. Esse sítio existe."

© 2002 Eduardo Prado Coelho

Também é dos meus preferidos, mas ñ te esqueças que é MEU, dp deixo-to de herança. Áh! está na Encarnação, ainda no outro dia estive a (re)ler uns bocadinhos,já na época tive que mastigá-lo um bocadinho, ñ é fácil!

Sound and Fury, signifying nothing disse...

Esta mãe é mesmo a tua mãe, Patrícia?? Se sim, que inveja, uma mãe que alinha na blogosfera! Aqui para os meus lados isso é uma miragem ;)

Quanto ao livro, nunca o li, mas sabe bem sabermos que há livros que nos dizem tanto, e que podemos regressar a eles e ter sempre a mesma sensação, recuperar sentimentos do passado suscitado por "meras" obras literárias.

Ah, e tanto quanto sei, a autora é casada com um ex professor meu, por isso imagino que, de facto, escreva bem. Um dia leio...

Patricia disse...

Pois claro q é a minha maãe ana! ela é toda pra frentex nestas coisas. qq dia até tem um blog dela. Mas sim, não é nenhum anónimo a fazer-se passar por "mãe" ahaha. é mesmo a minha!

Anónimo disse...

=D Pois é tens uma mãe mesmo mto pa frentex! Confesso q também não li o livro, mas acho q foi pq na altura tinha um bocado de aversão aos novos autores portugueses q andavam por aí a aparecer... mas só por ser minha sósia deve ser bom :) e se vocês o dizem... Olhem meninas quando o resgatarem lá da Encarnação e quando eu conseguir ler + do q 2 páginas antes de adormecer, emprestem-mo ***

Batista disse...

O meu último devaneio literário foi mesmo a bula do Actifed !! Profundo...sobretudo a passagem dos efeitos secundários...é de um dramatismo atroz.

Parvoíces à parte, imperdivel é o livro da Patiti..."O lado negro da vida", certo ?

Patricia disse...

O lado negro da vida????? Mas tá doido este? que raio de livro é esse? quem te ler vai pensar q sou uma neurótica vestida de preto e a evocar canticos satânicos. O lado negro da vida batista???? livro da patiti??? Tou baralhada :s

Anónimo disse...

Origem do Dia Internacional da Mulher (1)

No dia 8 de março de 1857, operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve ocupando a fábrica, como reinvidicação pela diminuição da carga horária diária de trabalho, de 16h para 10h. Estas operárias - que recebiam menos de um terço do salário dos homens - foram fechadas na fábrica onde iniciou-se um incêndio. Cerca de 130 mulheres morreram queimadas.

Em 1903, profissionais liberais norte-americanas criaram a Women"s Trade Union League, associação que tinha como principal objetivo ajudar todas as trabalhadoras a exigirem melhores condições de trabalho. Cinco anos depois, mais de 14 mil mulheres marcharam nas ruas de Nova Iorque protestando pelo mesmo motivo das operárias no ano de 1857, além de reinvidicarem o direito de voto. Caminhavam sob o slogan Pão e Rosas, em que o pão simbolizava a estabilidade econômica e as rosas uma melhor qualidade de vida.

Na Conferência Internacional de Mulheres realizada na Dinamarca em 1910, ficou decidido, em homenagem àquelas mulheres, comemorar o 8 de março como Dia Internacional da Mulher. Esta data, porém, só foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas em 1975.

ORIGEM DO DIA INTERNACIONAL DA MULHER (2)

A data foi escolhida pela UNESCO como uma homenagem às corajosas operárias de uma fábrica de tecidos em Nova Iorque. Estamos no dia 8 de março de 1857 e essas mulheres reivindicavam algo bastante simples e que até hoje ainda não foi totalmente resolvido: uma jornada de 10 horas de trabalho por dia e equiparação salarial com os homens que desempenhavam igual função.

Unidas, elas decidiram por um protesto seguido de uma greve. Com o intuito de amedronta-las e de dar uma solução rápida ao impasse, os donos da fábrica, agindo em conjunto com a polícia, trancaram as portas de emergência do galpão das máquinas e atearam fogo, num desenfreado desespero de querer mostrar a sua superioridade. O saldo dessa tragédia foi a morte de 129 mulheres por asfixia.

O século XX foi marcado como sendo o da luta pelos direitos das mulheres, muitas pessoas se destacaram nesse sentido, mas uma foi de extrema importância. A alemã Clara Zetkin, feminista de carteirinha, a partir de 1890 foi a editora da revista "A Igualdade" e por mais de 27 anos pregou, claro, a igualdade entre homens e mulheres.

Clara foi uma das organizadoras da II Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, em Copenhague/Dinamarca, onde uma das propostas foi a discussão sobre o direito de voto da mulher na Europa. Nessa reunião ficou estabelecido que o dia 8 de Março seria uma data marcada para as grandes manifestações em toda a Europa, em homenagem as operárias da fábrica de Nova iorque. Mas foi apenas quando mais de 1 milhão de mulheres se reuniram nas ruas, que a data passou a ser reconhecida como o dia internacional de luta pelos direitos de igualdade das mulheres.

Anónimo disse...

passados exactamente 150 anos estamos a voltar ao principio,a jornada de 8 ou 10 horas passou para 12, 14 ou 16, os salários são o que se sabe, a segurança é o q está a vista, a discriminação continua, só falta deitarem-nos fogo !!! mas vivam as mulheres e o lindo dia de sol que está hoje (embora ñ o possamos gozar, que chatice!) prometo hoje ñ escrevo mais e n pensem q ñ estou a trabalhar, porque ESTOU !!!!!

Patricia disse...

ahahahahahaah!!! pois mãe já ias trabalhar já! tu, a inês, o ricardo.. vá tudo a trabalhar, que eu estou a trabalhar!! E MUITO!! EMBORA ACHE QUE HOJE NENHUMA MULHER DEVIA TRABALHAR NAO É!!!

Batista disse...

Pronto...não é o lado negro da vida mas o "Lado oculto da memória"...

Eu sabia que era um lado qualquer...

E não, a Patricia não invoca espiritos satânicos...tirando as macumbas com as galinhas negras e decapitadas, não faz grande coisa mais...

Jay Dee disse...

Cá está a verdadeira mãe =P a da Patricia! E eu a pensar que era a Teresinha!

Também li o livro=) mas já há muito tempo mesmo...
Lembro-me que gostei, apesar de não me lembrar exactamente do conteúdo.

Beijoca grande! Dalila

Anónimo disse...

Na Ericeira, de qualquer forma, o livro não se sentirá perdido, porque foi na Ericeira que ele nasceu e começou a ser escrito, em Agosto de 1999. Obrigada, um beijo. Inês P.