14 setembro 2007

Eu pertenco a:




You Belong in Amsterdam



A little old fashioned, a little modern - you're the best of both worlds. And so is Amsterdam.

Whether you want to be a squatter graffiti artist or a great novelist, Amsterdam has all that you want in Europe (in one small city).

11 setembro 2007

Hoje à tarde..

o meu colega de produção, que tem a idade do meu pai e uma sabedoria e sensibilidade de mestre... deixou-me este texto na secretária...

História da raposa e do principezinho

A raposa olhou para aquele rapaz bonito e com um ar frágil e percebeu imediatamente que era um Príncipe. Em volta, não havia ninguém, apenas a cor dourada do trigo e o céu azul lá em cima, numa abóbada muito suave, a perder de vista. O Príncipe não tinha vindo de carro nem desembarcado de nenhuma nave espacial, por isso a raposa achou que ele tinha caído do céu, e depois riu-se para dentro, como quem descobre um defeito um bocado parvo na sua própria personalidade, porque nada cai do céu, tudo o que se consegue na vida custa muito a ganhar e é infinitamente mais fácil perder tudo do que manter o mais importante. Mas, por outro lado, mesmo que tivesse caído do céu, se aquele rapaz tão bonito lhe tinha aparecido no caminho, alguma função iria ter na sua vida solitária e errante, sempre à procura de um abrigo que lhe servisse de casa, de um amigo que pudesse amar, de uma outra vida vivida em partilha, que já tinha lido em romances e visto em filmes, mas que nunca conhecera.

Como era muito curiosa e simpática, meteu conversa com ele.
- Quem és tu?
- Sou um Príncipe que quer conhecer o mundo.
-E tu?
- Sou uma raposa solitária e viajada que está farta de correr o mundo e quer encontrar uma casa.
- Isso deve ser aborrecido - respondeu o Príncipe.-
-O quê? Ser solitária ou estar farta?
- Estar farta. Eu sempre fui um solitário e preciso da solidão para entender o mundo. E viajar é tão bom, como te podes ter cansado?
- É da idade - respondeu a raposa. E, com um suspiro, deitou-se e colocou graciosamente o focinho bicudo e brilhante entre as patas da frente, como quem passa muito tempo a pensar.
- Mas tu pareces tão nova! - estranhou o Príncipe.
- É da alimentação - respondeu a predadora - só como carne fresca. E dos tratamentos de pele.
- Eu acho-te muito bonita - arriscou o Príncipe, com um sorriso muito tímido.
- Obrigada. Eu também te acho muito belo. Um bocadinho triste, talvez.
Ficaram os dois a olhar um para o outro, partilhando um silêncio tranquilo e cheio de ideias, como só acontece entre velhos amigos. E eles já eram velhos amigos.
- Onde está a tua família? A tua mãe, o teu pai e os teus irmãos?
- Os meus pais são de outro planeta e não tenho irmãos.
- Oh!... - exclamou a raposa, desapontada - então não sabes brincar, nem discutir, nem partilhar brinquedos?
- Mas também não me importo. Como tenho um planeta para cuidar, tive que crescer muito depressa e prefiro pensar e conhecer, em vez de brincar e partilhar.
- Eu tive sete irmãos - contou a raposa, orgulhosa - por isso cresci a brincar.
Levantou o focinho, depois as patas dianteiras, depois o torso, e ficou sentada, muito direita, a olhar fixamente para os olhos do Príncipe. Já estava apaixonada por ele e queria prender-lhe o olhar para sempre, porque sabia que o ia perder e queria guardar o melhor dele.
Mas os olhos dele eram difíceis de agarrar, porque as imagens lá dentro estavam sempre a mudar e a raposa percebeu que ele estava perdido e não sabia o que queria.
- Queres fazer um jogo comigo? - perguntou, com um sorriso matreiro.
- Não sei se consigo - respondeu o rapazinho, agarrando nervosamente as pontas do cachecol.
- É muito fácil. Eu faço-te uma pergunta e tu respondes. E como é tudo a brincar, podes responder o que quiseres. Gostavas de ser uma raposa?
- Não
- Porquê?- Porque não podia mandar em ninguém.
- Assim não jogo - disse a raposa, subitamente entristecida - tu só sabes falar a sério.
- Não é verdade - respondeu o rapazinho - eu só sei é dizer a verdade e quase ninguém aguenta a verdade o tempo todo. Por isso é que ando sozinho.
A raposa baixou outra vez o torso e voltou a encaixar o focinho por entre as patas. Tinha que pensar muito bem no que ia dizer a seguir, porque, como estava apaixonada, ardia ao mesmo tempo de medo e de vontade e queria fazer as coisas o melhor possível.
- Eu acho que tu podias escolher ser feliz.
- Mas eu sou feliz - respondeu o Príncipe. Eu amo o conhecimento e vivo de acordo com a minha paixão; viajar, correr o mundo, conhecer seres maravilhosos, como tu?
...e, dizendo isto, sentou-se ao lado da raposa e pousou a sua mão branca e lisa no lombo dela.
A raposa estremeceu das patas à cabeça.

Queria guardar para sempre aquele toque, o calor da mão dele a inundá-la por dentro. Queria tornar-se num animal doméstico devoto ao seu dono. Queria mudar de vida e alcançar a outra, a sonhada e desejada, depois de tantos livros e filmes. Mas ele também tinha que querer o mesmo que ela, ou corriam o risco de ficar apenas os melhores amigos.Então a raposa pensou, pensou e decidiu ficar calada. Tudo o que dissesse dali para a frente ia estragar o seu sonho, o momento perfeito que lhe tinha caído do céu. Sabia que queria que aquele momento se eternizasse, por isso fechou os olhos.

Tudo tem um princípio e tudo tem um fim, pensou. Mas não vou pensar no que não está nas minhas mãos. E, sem falar, enroscou-se a ele, como se fosse para sempre.


Existem poucas pessoas no mundo com a capacidade de nos "ler".. o Zé Carlos, no alto dos seus 55 anos... saber "ler-me"... e "ler-nos" a todos aqui dentro.

Obrigada!