"Quando fechamos a porta do carro, sabemos sempre quando fica "mal fechada". O som da porta mal fechada é diferente do som da porta bem fechada. Ouvimos e fechamos (desta vez bem) a porta. E ouvimos o som evidente da porta bem fechada. Com as pessoas raramente é assim. Raramente percebemos que a porta está mal fechada. O som da porta mal fechada não é evidente. Só muito mais tarde percebemos o ruído impertinente. A porta ficou mal fechada. Mas agora queres fechar bem a porta ou abrir de novo a porta?"
Pedro Mexia, Prova de vida, 2007
Sei que há por aí muitas portas que nunca se voltarão a abrir, como existem aquelas que nunca ficam realmente fechadas. Podemos viver uma vida inteira com portas entreabertas. Cá comigo sempre foi: ou estava completamente fechada, ou estava escandalosamente escancarada. "À la Patrícia", mantendo-as demasiado abertas, durante demasiado tempo, e depois claro, tenho que bater com elas, com força (o que faz um estrondo enorme) rodar a chave e engoli-la, para que não haja mais nenhuma (nem remota) hipótese de esta se voltar a abrir. Comigo tem que ser assim, tenho mesmo que engolir ou deitar a chave ao mar, senão lá vai a Patrícia com a mania que o mundo é cor-de-rosa, abrir um bocadinho, só para ver se ainda lá está alguém. Por isso, às vezes é mesmo assim, não há nada a fazer, não há volta a dar. Tem que se fechar e pronto, sem olhar para trás, para não haver arrependimentos que só vão adiar ainda mais um fim anunciado. E o que tem que ser, tem muita força .
Os primeiros dias custam. Custam horrores. Queremos desaparecer, chora-se muito, come-se pouco, desconfia-se da sorte, acreditamos piamente que nunca, nunca, nunca mais vamos ser felizes, nem encontrar ninguém que não nos magoe. Apoiamo-nos nos amigos e em qualquer ser humano que nos diga "olá". Passamos o dia inteiro a ouvir musiquinhas deprimentes e ao fim de semana ficamos debaixo do edredon a ter pena, muita pena de nós mesmos. Perguntamo-nos 35 vezes por dia "porquê a mim?" e gritamos aos amigos que "ninguém me entende!!" Procura-se desesperadamente algo que se assemelhe ao que ficou do lado de lá da Porta... e sim, reza-se a todos os santinhos para ele/a voltar a bater-nos à porta com um pedido de desculpas, e a promessa de um amor eterno.
Mas não. Isso nunca acontece, e quando acontece já nós estamos noutras portas à muito tempo.
O que acontece, e esta sim, é a verdade, comum a todos os desgostos de amor... É que tudo vai ficando menos pesado, menos doloroso, e percebemos que ainda estamos vivos, e que o outro/a não levou tudo, e que ainda há oportunidades, um milhão delas, espalhadas pelo mundo, e que esse mesmo mundo não acabou. Só parou por uns instantes.
E a vida volta ao normal... contra todas as espectativas, volta de facto ao normal. E a angústia lá se vai dissipando, e conseguimos voltar a sorrir, a comer alimentos sólidos e a respirar tranquilamente, sem ficar com o ar preso na garganta. E depois... depois olha... que venham mais portas por abrir, que é como diz o ditado, quando deus fecha uma porta, abre logo uma janela, e de imediato... mil portas se abrem para compensar aquela que teve que se fechar, um dia.
Patrícia
02 dezembro 2008
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4 comentários:
Gostei do excerto que colocaste, mas convenhamos que em boa verdade o Pedro Mexia sempre pensou que quando crescesse queria saber escrever como a Patiti!
Para o que te havia de dar agora...dissertar sobre portas! Em época de natal, em que a chaminé é Rainha, o que aparece por estas bandas? Uma epopeia sobre portas que se abrem e fecham, ou que simplesmente têm problemas de fechaduras !!
Insensibilidade à parte, está um belo de um texto! Os ares do Norte fizeram-te bem...ou então foram as compras na Inbicta!
Beijos
Ámen zinha!!!....
Rui(zinho)
E que tal destruir tudo o que é portas e janelas?? Hum??
Desculpem mas tem de haver sempre uma visão pessimista da coisa...Guess What? É a minha...
adorei fogo!!!
tou com um nó na garganta!! porque será?!!!
ta lindo amiga,.. concordo com a rita!!
por favor alguém tome uma atitude relativamente a isto lol
bjs
di (miga da vida)
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