07 outubro 2008

Os nós e os laços

Esta senhora escreveu um texto para mim, e eu, claro, tinha que o publicar.
Li esta crónica esta semana, e como ainda não me apetece muito falar na minha vida, deixo que alguém o faça por mim.
"Há três remédios que ainda não foram inventados: o remédio para a estupidez, o remédio para a paciência e o remédio para cortar laços. Num mundo perfeito, as pessoas iam à farmácia e pediam uma caixa de comprimidos para o bom feitio, ou umas injecções para os neurónios. Quanto aos laços, não imagino outro objecto senão uma tesoura bem afiada para cumprir a missão.Alguém devia inventar uma tesoura para cortar laços, sobretudo quando os laços já estão cheios de nós cegos e não há volta a dar. À falta de um objecto contundente que serviria para cortar o mal pela raiz, restam os procedimentos habituais; bater com a porta, deixar de telefonar, não atender chamadas, fazer exercícios de abstracção, em suma, fechar o coração.
FECHAR o coração é um exercício duríssimo para quem o tem. Não estou a falar dos já aqui citados donuts que alguns seres humanos escondem, nos quais as setas do Cupido se atravessam sem provocar a mais leve ferida, caindo no vazio do buraco negro de forma inconsequente. Estou a falar de pessoas com coração, que sabem dar e receber amor. Quem deixa um grande amor para trás carrega grilhetas tão ou mais pesadas do que aquele que fica sentado, pregado na pedra do porto, como canta Chico Buarque. Bater com a porta requer coragem, concentração e muita força de vontade. É preciso saber desistir e hoje em dia ninguém gosta de desistir de nada, muito menos do amor, até porque o amor é um bem escasso que facilmente se confunde com entusiasmo, atracção física, tesão, paixão ou entendimento. Mas afinal o que é o amor, senão uma soma nada matemática que engloba todas estas sensações, sentimentos e estados?
HÁ algum tempo que desisti de definir o amor e passei a concentrar-me em entender onde reside o amor. Isto porque acredito que o amor em si não existe, o que existe são provas de amor. Logo, essas provas podem estar à vista de todos. E é por esta ordem de ideias que as pessoas ficam noivas, trocando promessas e anéis, e depois se casam, trocando mais promessas e mais anéis. As celebrações amorosas servem para selar o amor. Por outro lado, as rupturas amorosas não seguem preceitos nem rituais; cada um faz o melhor que sabe e aguenta-se como pode, engolindo a mágoa do conformismo, ou remando contra a maré.Como escreveu Truman Capote – que por acaso jogava na equipa dos donuts – a morte de um sonho é tão triste e dolorosa como a própria morte, merece por isso o respeito e silêncio para com aqueles que a sofrem. Quando alguém desiste de um amor, está também a desistir de um sonho que já acalentou. E é muito difícil desistir. Abdicar de um amor dói, e essa dor dura, demora a partir. É como viver com uma pedra encostada à garganta.
QUEM quer mesmo desistir tem de conseguir cortar o mal pela raiz, antes que os laços se tornem nós à volta do pescoço e do coração. É preciso pegar na tesoura e zás, cortar sem dó nem piedade, e sobretudo sem olhar para trás, sob o risco de reviver o mito daqueles que, ao partir de Sodoma e de Gomorra, se transformaram em estátuas de sal."
Margarida Rebelo pinto

2 comentários:

Porto disse...

Só é pena o texto ser da Margarida Rebelo Pinto. Tirando isso está lá tudo: as razões, as dores, os remédios. A tesoura a mim parece-me milagreira, até porque tem bicos e pode efectivamente causar sérios danos. Outra coisa interessante e que não está lá é a chave, essa sim um grande remédio para os corações mais fechados ou enferrujados por um amor carregado de lágrimas, salgadas e ácidas, de dor. E o bater com a porta não significa fechá-la para sempre, aliás, significa esperar que alguém bata e peça para entrar. Se os muros são altos porque não esperar que nos abram a porta?! Certezas há muitas, incertezas também. E corações são o que por aí não falta, algum há-de palpitar prós teus lados.

E os laços continuam na moda, não te esqueças. Por isso corta os nós e arranja outros laços, melhores e mais interessantes, sem pontas soltas.

Beijinhos,
Porto.

rita sevilha disse...

DEPRIMENTE...Não consigo dizer mais nada! Desistir...Do quê?...Porque?...Por quem?...De quem?...As pessoas e as coisas têm a importância que nos lhes damos...e fico-me por aqui!